Zeina Latif: “Haddad ficou enfraquecido porque errou na estratégia”


O ministro da Rancho, Fernando Haddad, está enfraquecido em seguida mais de 2 anos no função. Mas, ao contrário do que afirmam analistas e grande segmento dos agentes de mercado, isso não tem relação com a escolha de Gleisi Hoffmann – considerada sua antípoda no PT – para ocupar um dos ministérios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas com erros cometidos pelo próprio dirigente da equipe econômica. A avaliação é da economista Zeina Latif, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, em entrevista ao Metrópoles.

Para Zeina, Haddad “errou na sua estratégia” e demorou demais para reconhecer a prestígio crucial do galanteio de despesas para o estabilidade fiscal do país, para além do aumento de receitas. “Era uma agenda para encetar já no início do governo”, diz a economista. “Aquele pacote do ano pretérito deveria ter entrado em mais frentes, embora eu entenda que a visão do mercado em relação ao pacote tenha sido excessivamente pessimista e mal-humorada. A omissão, ao meu ver, foi que veio muito tarde”, afirma.

“Ele (Haddad) não deu a devida ênfase para a questão da despesa. Ao possuir essa deterioração de preços do mercado, possivelmente isso o enfraqueceu junto ao presidente”, prossegue Zeina. “O partido (PT) ter dificuldade com a agenda de gastos, eu até entendo, mas você tem que ter um ministro que consiga segurar o touro e preservar a crédito.”

Segundo a economista, a influência de Gleisi sobre o presidente da República foi potencializada pelo mercado, que reagiu mal à nomeação da novidade ministra de Relações Institucionais. “Eu não acredito que haja esse simbolismo todo na indicação dela e que isso seja capaz de enfraquecer tanto o Haddad. Não vejo dessa forma, até porque a vocábulo final é do Lula. No final, a Gleisi concordando ou não, é o presidente quem toma a decisão”, observa.

Na conversa com a reportagem do Metrópoles, Zeina Latif também faz críticas ao busto fiscal e afirma que o país precisa retomar a agenda de reformas estruturais que ganhou tração a partir de 2016. “O busto fiscal não cumpriu o seu papel, nem no sentido de entregar os resultados de limitado prazo, muito menos no de permitir, no médio e longo prazo, condições para o estabilidade das contas públicas. O próximo presidente certamente terá de adotar um outro regime fiscal”, projeta.

Leia os principais trechos da entrevista concedida por Zeina Latif ao Metrópoles:

Depois mais de 2 anos de governo Lula, por que os sinais emitidos em relação à economia vêm despertando tanta preocupação no mercado?

A grande questão é a gestão da política fiscal. O desenvolvimento esperado da dívida pública é potente e há questões fiscais mais estruturais que vêm em tendência de piora. Está bastante simples que precisamos voltar a ter reformas, e o governo foi em direção contrária, em vez de dar prosseguimento à agenda de reformas fiscais. O roupa é que tivemos retrocessos no atual governo, que começam já na PEC da Transição (proposta aprovada no Congresso que permitiu ao governo aumentar em R$ 145 bilhões o limite de gastos no Orçamento para bancar despesas com programas porquê Bolsa Família, Auxílio Gás e Farmácia Popular) – não pela PEC em si, que era necessária, porque aquele Orçamento não era mesmo viável. De lá para cá, tivemos várias decisões equivocadas e até retrocessos institucionais. Em vez de reformar a regra do teto de gastos, vieram com outra regra, que tinha muitos problemas de inconsistências internas. As contas não fecham com as metas fiscais e ainda surgem camadas adicionais de preocupação. A regra do salário mínimo, a volta da vinculação de saúde e ensino, o uso de fundos públicos e privados, despesas fora do Orçamento porquê o Pé-de-Meia e o Vale Gás… Foram retrocessos na agenda de contenção de gastos. Ainda que algumas decisões tenham ido na direção correta, colocou-se um peso muito grande no aumento da arrecadação, justamente no momento em que se estava aprovando a reforma tributária. Isso gerou muita incerteza para os agentes econômicos. É simples que houve ainda uma retórica muito ruim sobre o Banco Médio, o que ofídio seu preço com as expectativas desancoradas de inflação. Mas o maior problema, realmente, foi a falta de horizonte em relação ao ajuste das contas públicas.

Você tem chamado atenção para uma “petardo fiscal” que vem se formando, envolvendo as despesas obrigatórias da União. Segundo estimativas do Tesouro, elas devem ter um desenvolvimento real médio de 3% ao ano até 2034. O busto fiscal ainda está se sustentando ou corre risco de não parar de pé?

Logo de face, o busto não funcionou. Em 2023, quando o Haddad anunciou o busto, ele anunciou também metas de resultado primitivo. Já no primeiro ano, a meta de 2023 foi ignorada e zero se falou a reverência. Em 2024, conseguiram executar, mas se valendo de expedientes que levassem a esse cumprimento. Em 2023, foi feita uma antecipação de despesas e, ao mesmo tempo, jogaram algumas receitas para frente, justamente para cumprirem em 2024. No ano pretérito, eles mudaram a meta fiscal. A regra do busto não funcionou desde o início e, para piorar, não trouxe crédito para os agentes econômicos. Estamos falando de um governo que implementou uma novidade regra, tomou decisões inconsistentes com o busto e, portanto, não trouxe previsibilidade à economia. O regime fiscal do país, que é a forma porquê as regras são estabelecidas e a crédito de que elas podem levar à estabilização da dívida pública porquê proporção do PIB, não conseguiu atingir esse objetivo. O busto fiscal não cumpriu o seu papel, nem no sentido de entregar os resultados de limitado prazo, muito menos no de permitir, no médio e longo prazo, condições para o estabilidade das contas públicas. O próximo presidente certamente terá de adotar um outro regime fiscal.

O governo ampliou a oferta do empréstimo consignado a empregados do setor privado com carteira assinada e deve enviar nesta semana ao Congresso o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 milénio. Uma vez que você avalia essas medidas, em um momento no qual o estabilidade das contas públicas parece ser o grande calcanhar de Aquiles do governo?

Eu até vejo méritos em pensar em alguma coisa nesse sentido, mas são medidas que partem de diagnósticos falhos, começando pela tábua do IR. O que a gente tem hoje de isenção de IR não é um valor inferior em relação à experiência mundial. Do ponto de vista distributivo, não faz sentido gabar essa isenção. Em segundo lugar, não é um pouco que beneficie os pobres. Haveria outras coisas que, ao meu ver, são prioritárias para ter maior justiça tributária e que não estão sendo tocadas, porquê rever as muitas renúncias ou regras de tributação que acabam beneficiando pessoas mais ricas. Há outras injustiças que precisavam ser atacadas. A terceira questão é a manadeira de recursos. Uma isenção porquê essa, de R$ 25 bilhões, é muito difícil de ser viabilizada. Uma vez que remunerar essa conta? Essa forma de remunerar a conta também não pode trazer distorções. Enfim, há coisas que são meritórias, pelo menos no exposição de aumentar a justiça tributária. Mas o caminho de encetar pela isenção do IR foi equivocado. E o timing foi incorrecto também, um momento no qual a agenda deveria ser de contenção de despesas.

A inflação em fevereiro avançou para 1,31%, o maior índice para o mês em 22 anos. No amontoado de 12 meses, o IPCA ficou em 5,06%, supra do teto da meta. Os brasileiros terão de conviver com inflação subida por muito tempo?

A gente vai depender da sorte, até porque os efeitos da política monetária demoram para se materializar. São muitos ventos contrários que indicam que é cedo para expressar que o pior da inflação já passou. Há até uma expectativa de começarmos a ter, mais adiante, visível refrigério nos preços do atacado, mas não é um pouco para já. E tem essa dinâmica da inflação de serviços, que tem piorado. É um quadro de descontrole, que pode levar o país para uma situação muito extrema de inflação? Não, não vejo dessa forma. O que temos é uma conjunção de fatores com todos os vetores apontando para uma inflação mais resistente. Não é um descontrole, mas um quadro bastante desconfortável. A nossa meta de inflação (de 3% em 2025) talvez seja baixa demais neste momento? Talvez seja. Pessoalmente, acho que, quando o BC começou a fazer aquela escadinha de redução da meta, a velocidade foi muito rápida, principalmente naquele período pós-pandemia. Era o momento de esperar. É simples que, uma vez que está lá, não vale a pena mudar a meta. O dispêndio é muito cimo. Se mudar a meta em um quadro de suspicácia porquê agora, na hora as expectativas inflacionárias vão subir junto. De qualquer forma, quando vejo o governo preocupado com a inflação, ainda que muitas vezes as medidas sejam equivocadas, já encaro porquê um sinal positivo. Se pensarmos no governo anterior do PT, da Dilma (Rousseff), a inflação subia e isso não trazia preocupação. O governo negava o problema. Está ruim agora, mas não acho que tenhamos um quadro muito preocupante pela frente, até porque, muito ou mal, temos uma classe política que entendeu que inflação machuca a aprovação de qualquer governo.

O PIB do Brasil teve potente desenvolvimento em 2023 e 2024, mas há sinais evidentes de desaceleração a partir do segundo semestre deste ano. Por que o país não consegue superar esses “voos de penosa” na economia?

Em 2023 e em segmento de 2024, tivemos, sem incerteza, um efeito sintético de impulso fiscal. Em 2023, tivemos todo o efeito da PEC da Transição. Depois, 2024 já começou com o pagamento dos precatórios. Mesmo que você não tenha adicionalmente despesas no mesmo ritmo, estamos falando de desacelerar, mas sobre uma base muito elevada. Portanto, tem muito impulso fiscal na economia. Todo mundo celebra, o setor produtivo celebra, mas não há porquê sustentar isso. Isso se sustenta enquanto tem ociosidade na economia. Mas, na hora em que o BC tem de retrair a taxa de juros e o mercado espera taxas de juros tão elevadas, está simples que aquela estratégia deu incorrecto. Na estação do governo Dilma, demorou muito para o mercado compreender que havia problemas na política econômica. O roupa de hoje possuir uma reação da sociedade, a ponto de a aprovação do presidente desabar e de os preços de ativos piorarem, é um freio para cenários extremos – leste é um ponto positivo. A sociedade, hoje, não aceita o descontrole. A sensibilidade a esse artificialismo está maior, o que significa que temos um governo com a crédito muito partida. Tem artificialismo fiscal no PIB, mas a teoria de colocar um freio veio mais cedo do que em outras ocasiões porque existe uma crise de crédito no atual governo. E aí pressiona dólar, inflação, curva de juros, e isso tem um efeito rebote na própria economia. Dito tudo isso, eu acho que tivemos uma melhora no potencial de desenvolvimento do país. O FMI projeta 2,5%, acho que é um número razoável de potencial, o que significa que a política monetária vai desacelerar a economia, mas não acredito que estejamos indo para um quadro recessivo. Recessão não é o nosso histórico. Política monetária não tem essa força toda, nem é para ter. Quando tivemos recessão no Brasil, havia outra crise junto, não era só a Selic subida. Ou era crise global, ou a pandemia, ou a própria crise política do governo Dilma, que fez despencarem os investimentos. Ainda que com muita volatilidade, tivemos recentemente uma recuperação do investimento, o mercado de trabalho está surpreendendo, é uma economia que tem exibido uma reação mais sincronizada entre os setores e as regiões do país… Não é tudo voo de penosa, não. Tivemos alguns ganhos.

Mas por que o Brasil não consegue atingir um desenvolvimento mais robusto e sustentável da economia?

O que é complicado é que vamos perdendo oportunidades de ter uma agenda mais ambiciosa e, portanto, perdendo a chance de um potencial de desenvolvimento mais potente. Era para estarmos discutindo outro tipo de agenda estrutural, mesmo que os ganhos não fossem para o limitado prazo. Agora, lamentavelmente, a segunda metade dos mandatos presidenciais no Brasil historicamente é mais difícil. E, quando o presidente está fraco, mais ainda. Com presidente fraco, fica muito mais face a aprovação de reformas.

Qual é a sua avaliação sobre o desempenho do ministro Fernando Haddad?

A forma porquê foi deixada de lado a agenda de contenção de gastos foi um equívoco. Era uma agenda para encetar já no início do governo. Tem coisa que foi na direção correta, mas, em universal, tivemos uma agenda econômica muito pobre, por colocar tanto foco na arrecadação e não no galanteio de despesas. Aquele pacote do ano pretérito deveria ter entrado em mais frentes, embora eu entenda que a visão do mercado em relação ao pacote tenha sido excessivamente pessimista e mal-humorada. A omissão, ao meu ver, foi que veio muito tarde. Já tinha muito diagnóstico simples no Brasil e dentro da máquina pública de que muitas das políticas públicas que temos hoje precisavam ser arrumadas. Demorou muito e tinha de mexer em mais coisas. Partiram de diagnósticos errados e introduziram essa agenda de forma muito atrasada. De qualquer forma, temos de examinar o governo porquê um todo. Por mais que eu identifique esses problemas, o roupa é que a gente viu dificuldades em várias áreas, que acabam desembocando na economia. Tem coisas que transbordam, não é só o Ministério da Rancho.

A escolha de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais pode enfraquecer Haddad?

A minha leitura é a de que o ministro Haddad ficou enfraquecido porque ele errou na sua estratégia. Ele não deu a devida ênfase para a questão da despesa. Ao possuir essa deterioração de preços do mercado, possivelmente isso o enfraqueceu junto ao presidente. O partido (PT) ter dificuldade com a agenda de gastos, eu até entendo, mas você tem que ter um ministro que consiga segurar o touro e preservar a crédito. Essa discussão de contenção de despesas só apareceu no exposição do Haddad em outubro do ano pretérito. Antes tarde do que nunca, mas demorou muito! Se o Ministério da Rancho teve um erro de diagnóstico e esse erro gerou piora das expectativas do mercado, é simples que a credibilidade do ministro junto ao presidente é outra. Foi um pouco dissemelhante, mas, de alguma forma, isso aconteceu também com o Paulo Guedes (ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro). Ele passou uma imagem de que era fácil consertar o Brasil e fazer reformas. Até o momento em que o presidente (Bolsonaro) não quis mais ouvir essa história. Podem até subsistir outros elementos que enfraqueceram o ministro Haddad, mas há uma questão mediano: ele não conseguiu partir dos diagnósticos corretos e, a partir daí, convencer sobre a urgência de ajuste de despesa. Quando o fez, fez tardiamente. Sobre a Gleisi, eu não acredito que haja esse simbolismo todo na indicação dela e que isso seja capaz de enfraquecer tanto o Haddad. Não vejo dessa forma, até porque a vocábulo final é do Lula. No final, a Gleisi concordando ou não, é o presidente quem toma a decisão. A divergência faz segmento de qualquer governo. Isso acontecia entre os ministros da Rancho e do Planejamento do primeiro governo FHC (Pedro Malan e José Serra, respectivamente). Sempre acontece. Não vejo a luta política interna porquê o fator principal para a perda de credibilidade do ministro da Rancho.

Em entrevista ao Metrópoles, em fevereiro de 2023, você disse que o governo Lula era uma “usina de ruídos” na economia e que o presidente parecia governar “com o fígado”, com os ataques sistemáticos ao Banco Médio. Esses ruídos aumentaram ou diminuíram de lá para cá?

No término das contas, tenho a sentimento de que o sonido acabou diminuindo, mas só porque ficou simples que o governo foi perdendo cada vez mais suporte e crédito, foi se enfraquecendo. Quando o governo fala em melhorar a notícia, ele reconhece que a aprovação do presidente está negativa em termos líquidos. Continuo achando que é difícil encontrar uma coisa mais estruturada neste governo. Você tem alguns ministérios mais arrumados, porquê o dos Transportes, e algumas coisas que vão melhorando, mas é pouco. No universal, não conseguimos enxergar uma agenda mais concreta e estruturada. O roupa de ter reduzido o sonido não significa grande coisa, considerando todo esse contexto.



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